BARRA DE CUNHAÚ - Roldão teixeira - 1a. parte

Aqui na barra vivo de pés no chão
Sou um morador da beira da praia
Aonde sacode a saia
Esqueci vaquejada, esqueci meu sertão
A seca, o inverno, a chuva, o trovão
As caçadas de peba, mocó e tatu
O fojo, o quixó que mata inhambu
Mudei de vida vou fazer pescaria
Farrear de noite, me banhar de dia
Nas águas tranqüilas de cunhaú

Já tenho paquete, comprei atavios
Estou pronto pra enfrentar pescarias
Com inspiração escrevo poesias
Ao longe vendo passar os navios
Lembro vaqueiros nos vales sombrios
Arriscando a vida pegar boi zebu
Nma mata a cavalo, o espinho cru
Bate a saudade, vem a recordação
Vendo jangada mudo de opinião
Vou ser pescador no mar de cunhaú

Se lá eu ouvia o graúna cantar
Aqui vejo massariquinha correndo
A branca espuma até parecendo
Ter algum segredo para me falar
É tão diferente pode comparar
A branca garça com o negro urubu
A valente moréia com a mansa urutu
O grito so socó com o cantar do carão
Tudo é diferente do meu torrão
Comparado a barra do cunhaú

Nas noites claras de lua cheia
A água transparente fica preateada
A onda suave balança a jangada
O vento fagueiro alisa a areia
Chego até ver a morena sereia
Exibindo pra mim o seu corpo nu
O mar de tão verde parece azul
É um cenário por deus abençoado
cada vez mais fico apaixonado
Pela nossa praia de cunhaú

Nesta terra querida de beleza pura
Tem fandango, reizado, chegança
Tem carnaval, na pastoril se dança
Preservando folclore e nossa cultura
Nosso meral com sua água escura
Berçário natural do camarão pitu
Camarão preto, marinho e tamaru
É útero fértil com muito aluvião
Ganha todo povo, e a preservação
Viva a natureza de cunhaú.